20/4/09

O MÊS PRESENTE / Mário Faustino / Brasil (1930 -1962)

Sinto que o mês presente se assassina, As aves atuais nascem mudas E o tempo na verdade tem domínio Sobre homens nus ao sul de luas curvas. Sinto que o mês presente me assassina, Corro despido atrás de cristo preso, Cavalheiro gentil que me abomina E atrai-me ao despudor da luz esquerda Ao beco de agonia onde me espreita A morte espacial que me ilumina. Sinto que o mês presente me assassina E o temporal ladrão rouba-me as fêmeas De apóstolos marujos que me arrastam Ao longo da corrente onde blasfemas Gaivotas provam peixes de milagre. Sinto que o mês presente me assassina, Há luto nas rosáceas desta aurora, Há sinos de ironia em cada hora (Na libra escorpiões pesam-me a sina) Há panos de imprimir a dura face A força do suor de sangue e chaga. Sinto que o mês presente me assassina, Os derradeiros astros nascem tortos E o tempo na verdade tem domínio Sobre o morto que enterra os próprios mortos. O tempo na verdade tem domínio. Amen, amen vos digo, tem domínio. E ri do que desfere verbos, dardos De falso eterno que retornam para Assassinar-nos num mês assassino.

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